Uma criança contrai o vírus da HIV a cada 100 segundos, diz UNICEF

 

No final de novembro, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) divulgou um relatório no qual informa que, em 2019, o vírus da HIV infectou uma criança ou adolescente a cada 100 segundos.

Estima-se que 2,8 milhões de crianças e adolescentes em todo o mundo vivem com o HIV, sendo que apenas pouco mais da metade delas tem acesso a medicamentos antirretrovirais. A África Subsaariana é a zona mais afetada do mundo, com nove a cada dez crianças infectadas em 2019. Os piores dados também foram registrados na América Latina, Caribe e na África Ocidental e Central.

Assim como acontece em outras campanhas mensais, Dezembro Vermelho busca alertar a sociedade acerca das medidas de prevenção, assistência, proteção e promoção dos direitos das pessoas infectadas com o HIV.

 

A Revista do São Carlos Clube conversou com o médico infectologista Paulo Roberto Motta, que nos explicou que o vírus HIV “parasita” células responsáveis pela defesa de nosso organismo, nos tornando vulneráveis a infecções causadas por outros microrganismos. “Quando o sistema imunológico está preservado, habitualmente esses microrganismos são combatidos e eliminados”, esclarece o médico.

 

Formas de transmissão

Paulo afirma que a transmissão se dá essencialmente pelo contato sexual sem proteção com pessoa soropositiva, uso de drogas principalmente endovenosas, contato com secreções orgânicas, transfusão de sangue contaminado e de mãe para o filho na gestação. “Observo que a potencialidade de contaminação está diretamente relacionada ao tipo e número de exposições. Vale ressaltar que o HIV não é transmitido por abraço, beijo, lágrimas e convívio social.”

 

Sintomas

“São variáveis, porém febre inexplicável, perda de peso, adinamia (fraqueza), sudorese noturna, surgimento de gânglios, monilíase oral – popularmente conhecida como  “sapinho”, – manchas na pele são (dentre outros) os mais frequentes.”

 

Teste e janela imunológica

O infectologista explica ainda que o teste pode ser realizado a qualquer momento, contudo há um período após o contato com o vírus, conhecido como “janela imunológica”, em que não se detecta anticorpos marcadores para o diagnóstico da infecção. “Atualmente, com o surgimento de novos testes mais sensíveis, quatro semanas após a exposição é o período recomendável para a realização dos testes convencionais.”

 

Profilaxia pós-exposição (PEP)

A PEP é uma medida de prevenção de urgência à infecção pelo HIV, hepatites virais e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), que consiste no uso de medicamentos antirretrovirais, devendo ocorrer em até 72 horas. Deve ser utilizada após qualquer situação em que exista risco de contágio, tais como:

  • violência sexual;
  • relação sexual desprotegida (sem o uso de camisinha ou com rompimento da camisinha);
  • acidente ocupacional (com instrumentos perfurocortantes ou contato direto com material biológico).

 

Tratamento

O médico esclarece ainda que os medicamentos antirretrovirais garantem o controle adequado da doença, se utilizados corretamente pelo paciente soropositivo. “Trata-se de TARV, nome dado à terapia antirretroviral, composta por medicamentos que atuam em sítios específicos do vírus, inibindo sua replicação e desenvolvimento na célula. Importante destacar que, nos primeiros anos da descoberta da doença, eram utilizados vários medicamentos associados. Já atualmente, considerando a evolução e apresentação da doença, esse tratamento foi reduzido para somente dois comprimidos ao dia, favorecendo a adesão ao tratamento e o sucesso no controle da doença.”

 

Prevenção

• A camisinha, ou preservativo, continua sendo o método mais eficaz para prevenir muitas doenças sexualmente transmissíveis.

• Devido à possibilidade de se transmitir o vírus HIV durante o compartilhamento de objetos perfurocortantes, que entrem em contato direto com o sangue, é indicado o uso de objetos descartáveis.

• O contágio de diversas doenças, principalmente do vírus HIV, através da transfusão de sangue e da doação de órgãos tem contribuído para que as instituições de coleta selecionem criteriosamente seus doadores e adotem regras rígidas para testar, transportar, estocar e transfundir o material. Estes procedimentos estão garantindo cada vez mais um número menor de casos de transmissão de doenças através da transfusão de sangue e da doação de órgãos.

• Toda gestante deve fazer o teste que identifica a presença do vírus HIV. Se o exame for positivo, ela receberá tratamento adequado para evitar a transmissão para o filho na hora do parto.

 

Paulo Roberto Motta

Infectologista

CRM: 52978