As relações amorosas na contemporaneidade
Uma das características mais marcantes da sociedade atual é o individualismo. As redes sociais também contribuem para isso com os relacionamentos on-line, em que o que está ao lado, muitas vezes, não é percebido. Já os parceiros virtuais são notados pelo que aparentam ser e não por aquilo que realmente são.
O que é apresentado na internet é outro marco da sociedade contemporânea, ou seja, a tentativa de controlar o status, o intenso interesse de controlar tudo o que é mostrado de si. Como a vida tem de parecer perfeita, não é permitido ficar triste e lidar com a frustração é cada vez mais difícil.
O individualismo ganha ainda mais força com a descartabilidade, a liquidez dos relacionamentos, a exaltação da quantidade em vez da qualidade, em que, mais uma vez, as pessoas valem mais pelo que aparentam ser no exterior do que pelo que têm no interior. Como consequência diminui o envolvimento nos relacionamentos, ocorrendo, assim, muitos fracassos nessas relações, muitas vezes baseadas só na atração sexual e na realização e consumação desta. Não à toa, são frequentes os relacionamentos instantâneos, o apenas “ficar”, sem algo duradouro.
Como é possível observar, cada um é responsável por manter sua subjetividade, e muitas vezes a opção é diminuir as relações interpessoais, aumentando mais e mais a comunicação atravessada pela tecnologia, como e-mails, chats.... Tudo isso, em vez de aproximar, faz o oposto, permitindo que a pessoa se relacione sem precisar se envolver emocionalmente com o outro, eliminando assim o compromisso e a dependência. O relacionamento está somente a um clique, sendo muito mais confortável o intermédio de uma tela de computador do que o face a face, caracterizando a fluidez dos relacionamentos na sociedade contemporânea, em que estão presentes a incerteza e a insegurança. As pessoas, ao mesmo tempo em que buscam relações mais íntimas, procuram também se desvencilhar dos laços que por ventura essas relações possam trazer.
Sendo assim, diversos instrumentos são utilizados como pano de fundo do estabelecimento dessas relações, como, por exemplo: sites que oferecem encontros de diversos tipos, como se fossem produtos em uma prateleira do supermercado; chats de relacionamentos; manuais que prometem trazer um parceiro por meio de dez passos; ou como encontrar um parceiro perfeito, ideal. Como uma mercadoria, caso esta não esteja em perfeito estado de conservação e uso, ou seja, se não corresponder às expectativas, é só abrir mão, descartar, e partir para uma nova busca.
Assim, as escolhas que foram realizadas podem ser substituídas a qualquer momento, sem que isso cause algum tipo de dano, exatamente como uma relação de consumo – custo-benefício. Essas relações fazem as vezes de produtos, que mantêm a promessa de satisfação dos desejos com o mínimo possível de envolvimento e esforço, tendo assim uma data de validade, assim como cada produto possui.
As mudanças ocorridas nos papéis do homem e da mulher, a facilidade com que hoje as relações podem ser rompidas e, lógico, a grande influência da tecnologia, como, por exemplo, os meios de comunicação e a própria internet, foram importantíssimas para que esse tipo de relacionamento se estabelecesse.
Diversos conceitos foram criados. Por exemplo, as ideias de felicidade, de beleza, as noções de tempo e espaço foram ampliadas e modificadas, porém parece que a sociedade se esqueceu de que todos vivem num mundo real e não em um mundo fabricado, um mundo de conto de fadas. Nesse mundo real há muitas dificuldades, e é preciso ter jogo de cintura, poder de luta e superação para sobreviver. Portanto, há, de um lado, um mundo volátil, rápido, dinâmico, e, de outro, o longo e trabalhoso processo de estabelecimento e construção de relacionamentos. Trocar inúmeras vezes de parceiro não é suficiente para acabar com a insegurança que um relacionamento estável traz.
Os vínculos com a tradição foram perdidos, deixaram de ser um espaço sagrado. Tanto o individualismo como o consumo tão exacerbado que circunda a sociedade atual fazem com que haja uma imensa dificuldade de estabelecimento dos vínculos mais íntimos entre as pessoas. A internet é uma extensão do cotidiano, dando uma sensação de liberdade, que é tão desejada pelas pessoas no mundo atual, posto que não há limite para a comunicação e expressão de cada pessoa. Vale frisar que a liberdade é um desejo muito cobiçado, assim tratar pessoas como produtos descartáveis facilita o ser livre.
A sociedade de consumo é uma das características fundamentais do meio contemporâneo, sendo área de interesse do campo sociológico a partir da década de 1980, quando percebeu-se que o consumo se tornou mais uma forma de satisfação de necessidade material comum a todos os humanos.
Há, nesse período, a constituição da identidade por intermédio dos produtos que são consumidos e não mais pelas atividades que o sujeito realiza, como, por exemplo, o trabalho, o ambiente social, a religião. A pessoa pode ser quem quiser, é só consumir determinado produto. A velocidade do consumo faz com que tudo se torne menos útil a cada momento, havendo assim a descartabilidade tanto dos objetos como das relações, na mesma rapidez.
Os relacionamentos amorosos estão manifestando a não aproximação das pessoas, a não criação de vínculos que perdurem por mais tempo, tornando assim os relacionamentos breves e voltados somente para a satisfação das necessidades e dos desejos.
Os jovens já começam a vida amorosa com o “ficar”, que tem por característica principal a rapidez, o contato breve, a não exclusividade, o não compromisso, a descartabilidade das pessoas e a não presença de sentimento. O amor mostra-se como uma construção social, que é transformada a cada dia nas sociedades.