O Dia de Proteção às Florestas é comemorado, anualmente, em 17 de julho. A data foi criada com o objetivo de conscientizar as pessoas sobre a importância da preservação das florestas – lar de inúmeras espécies de animais e plantas – e garantir uma vida de qualidade para a humanidade.
Para destacar a data, o biólogo Fernando Magnani, responsável por catalogar as árvores e aves do SCC, escreveu um artigo em que salienta a função das florestas, a conexão destas com a nossa saúde, além de sua importância para o ecossistema, clima, saúde do planeta e economia. Confira o texto na íntegra:
Desde nossa mais tenra idade como espécie, quando ainda éramos parte integrante da cadeia alimentar natural, sempre nutrimos uma relação de amor e ódio com as florestas, pois por vezes ela nos alimentava com seus frutos e nos dava abrigo, mas também é nela que se escondiam nossos inimigos e predadores. E este medo ou aversão tem ainda uma assinatura presente em nossas mentes.
Certamente não me refiro aqui à hilofobia, que é um medo exagerado de ambientes florestais fechados, geralmente causado pela exposição, na infância, a filmes e lendas que envolvem árvores assustadoras. Algumas pessoas, aliás, sentem ansiedade extrema só de pensar no local. Aqui, na verdade, faço referência a uma aversão mais escondida em nossa mente, que é revelada com gestos e reações simples.
Em uma pesquisa foram exibidas, a dezenas de participantes, diversas imagens de lindas paisagens de áreas naturais. A grande maioria dos participantes disse preferir as imagens de áreas abertas, como campos, locais com vegetação baixa, visual de nascer do sol e praias abertas. Um número bem pequeno optou por áreas densamente florestadas, bosques fechados ou o pôr do sol. Um estudo como esse mostra que, no fundo, preferimos ver longe e à luz do dia, e não à noite, pois, de acordo com nossa informação genética ancestral, a noite reserva grandes perigos, já que não enxergamos no escuro e as florestas densas escondem de forma muito próxima nossos antigos predadores, que há muito já se foram.
Independente da assertividade dessa pesquisa, o fato é que vivemos novos e agitados tempos, nos quais somos nós os grandes predadores e praticamente dominamos todos os ambientes, sejam florestais ou não. E o que é um ambiente florestal? Segundo o Sistema Nacional de Informações Florestais (SNIF), denomina-se "floresta" qualquer vegetação que apresente predominância de indivíduos lenhosos, onde as copas das árvores se tocam formando um dossel. Sinônimos populares para florestas são: mata, mato, bosque, capoeira, selva.
Função das florestas
Existe relação direta entre a floresta e a água. A vegetação funciona como esponjas que capturam a água das chuvas e lentamente abastecem as reservas subterrâneas. A quantidade de água dos rios está relacionada à existência de florestas, e o volume de água pode ficar comprometido se continuarmos o processo de devastação das áreas florestais.
Elas também são importantes para a fixação do solo, pois suas raízes ajudam a evitar a erosão. As folhas mortas que cobrem a superfície também ajudam a evitar a remoção exagerada do solo e ainda permitem que a água das chuvas possa lentamente entrar na terra e ali permanecer por mais tempo. Já a ausência de vegetação favorece o processo de “lavagem do solo”, chamado de lixiviação.
As florestas ainda têm a excelente função de ajudar a regular o clima, pois, graças ao sistema de fotossíntese, absorvem o gás carbônico que eliminamos com a respiração e também aquele decorrente de inúmeras atividades humanas, que foram intensificadas no período pré-industrial e industrial.
O impacto das florestas em nossa saúde
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) dão conta de que entre 23% e 25% dos males provocados pelas doenças poderiam ser evitados por meio da melhoria da gestão das condições ambientais, incluindo a preservação das florestas. A proteção das áreas naturais pode contribuir positivamente para a saúde humana por meio da conservação de recursos medicinais de uso futuro e da redução dos impactos da poluição, toxinas e extremos climáticos.
Um bom exemplo é a descoberta feita nas florestas de Bornéu, no sudeste asiático, de árvores e arbustos que podem ser usados no tratamento do câncer, da malária e do vírus HIV (causador da AIDS). E anualmente são descobertos novos compostos naturais oriundos de florestas ainda preservadas.
Importância no ecossistema
As florestas representam um elemento fundamental na base de recursos que sustentam a vida no planeta. Além da oxigenação da atmosfera terrestre, os complexos ecossistemas florestais possibilitam que os solos se mantenham ricos em matéria orgânica e microrganismos como bactérias, fungos e protozoários diversos. Essa riqueza e diversidade biológica alimentam outros ecossistemas. Por exemplo, boa parte do ecossistema marinho se beneficia dos nutrientes preparados nas florestas e que são carreados pelos rios para dentro dos oceanos. Esses nutrientes, ressalte-se, são a base de uma rica cadeia alimentar.
Saúde do planeta
As florestas são um grande reservatório, e preservá-las é como preservar toda forma de vida do nosso planeta. As florestas representam um elemento fundamental para a sobrevivência de toda a biodiversidade da terra.
Muitas das nossas atitudes contribuem para a manutenção da biodiversidade, mas o mau uso dos recursos naturais também podem degradar o meio ambiente, extinguindo vidas cada vez mais raras.
Estimativas da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) apontam que o Brasil detém 20% da biodiversidade do planeta e 30% das florestas tropicais.
Clima
Os ambientes florestais são importantes para conter a velocidade das mudanças climáticas, pois toda área florestal bem conservada está diretamente relacionada com a manutenção da concentração de CO2 estocado e com o regime de chuvas, uma vez que é da floresta que advém parte da umidade que proporciona melhor qualidade de vida para os seres vivos.
Pesquisas recentes apontam que o aumento do período de seca no Centro-Oeste e em parte do Sudeste do Brasil tem ligação direta com a grave redução da cobertura florestal na região Norte, em virtude do acelerado desmatamento da Amazônia.
Uma das funções da floresta é filtrar o ar, deixando-o mais puro e limpo para a nossa respiração. Isso sem falar que ajuda na diminuição dos gases que causam o efeito estufa. Já há algum tempo, estudos apontam que a perda de cobertura vegetal pelo desmatamento ou a degradação florestal contribui para aumentar as emissões de gases de efeito estufa.
As florestas cobrem cerca de 30% da superfície terrestre e realizam a fotossíntese da qual depende a vida: produção de oxigênio a partir do dióxido de carbono. Isso acontece graças às árvores, que atuam como uma tecnologia segura e natural de captura e armazenamento de carbono.
Além da oxigenação do planeta, como citado acima, os complexos ecossistemas florestais possibilitam a conservação do solo, mantendo-o rico em matéria orgânica e microorganismos diversos. Esses microorganismos, por sua vez, permitem, através da simbiose, que a floresta aproveite melhor os nutrientes e a água do solo, gerando, assim, um ciclo de benefícios mútuos.
Economia
A relevância da floresta ultrapassa o nível ecológico e se estende para o nível econômico, com fortes desdobramentos sociais. Estamos falando aqui do fornecimento de madeiras, combustíveis, alimentos, matérias-primas para indústria, como a celulose, produtos florestais não madeireiros, como a cortiça, frutos, dentre outros.
Em especial, os produtos florestais não madeireiros são fundamentais para a subsistência de muitas pessoas em todo o mundo, especialmente para aquelas que vivem no interior ou próximo das florestas. Os produtos florestais não madeireiros têm uma significativa importância como alternativa econômica que pode diminuir o êxodo rural e as taxas de desmatamento. Esses produtos podem ser provenientes de florestas plantadas ou de florestas naturais. Independentemente de sua origem, o manejo florestal é de suma importância para a manutenção da atividade. Podemos rapidamente citar alguns, como a castanha-do-pará, o cupuaçu, o mate, o pinhão, dentre outros.
Com todo o conhecimento adquirido ao longo de milhares de anos de convivência e de usos das áreas florestais, não cabe, nos dias de hoje, pensar que as florestas somente têm valor quando inteiramente derrubadas e substituídas por monoculturas ou pastagens para o gado.
Podemos até guardar em nosso DNA um medo ancestral por áreas florestais fechadas – hoje sem nenhum sentido –, mas o fato é que, em uma escala de risco, atualmente as florestas é que deveriam ter medo de nós.
Fernando Magnani
Biólogo