Enfermeiros: os heróis da pandemia
O Dia Mundial da Enfermagem é comemorado em 12 de maio, data do aniversário da britânica Florence Nightingale, considerada mundialmente a mãe dessa profissão tão imprescindível, que traduz a arte do cuidar, principalmente neste momento de pandemia.
Para entendermos as áreas de atuação, os desafios da profissão e como tem sido trabalhar nesse setor durante a pandemia, a Revista do São Carlos Clube entrevistou a associada e enfermeira Samira Candalaft Deguirmendjian. Confira:
Qual a diferença entre enfermeiro, técnico e auxiliar de enfermagem?
As atribuições legais dos profissionais de enfermagem estão dispostas no Decreto nº 94.406/87 do Conselho Federal de Enfermagem, que regulamenta a Lei nº 7.498/86. O enfermeiro possui graduação em enfermagem e formação em práticas avançadas, adquirindo conhecimento especializado, capacidade de tomar decisões complexas e competências clínicas para a prática expandida. Ele realiza o planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços de enfermagem. Realiza cuidados diretos de enfermagem a pacientes graves com risco de vida, cuidados de maior complexidade técnica e que exijam conhecimentos científicos adequados e capacidade de tomar decisões imediatas. Participa de programas de treinamento e aprimoramento de pessoal de saúde (educação continuada e permanente), participa na elaboração e operacionalização do sistema de referência e contrarreferência do paciente nos diferentes níveis de atenção à saúde, participa dos programas de segurança do trabalho e de prevenção de acidentes e de doenças profissionais, etc. O processo de trabalho do profissional enfermeiro envolve a área do cuidar, educar, assistir, investigar e gerenciar.
As atividades desenvolvidas pelos técnicos e auxiliares de enfermagem são de suma importância também e somente poderão ser exercidas sob supervisão, orientação e direção de um profissional enfermeiro. O técnico de enfermagem exerce as atividades de nível médio técnico, e o auxiliar de enfermagem executa as atividades auxiliares de nível médio atribuídas à equipe de enfermagem. As atividades estão relacionadas ao cuidado direto com o paciente, como, por exemplo: observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas de acordo com sua qualificação, verificação de sinais vitais, administração de medicamentos, realização de curativos, prestar os cuidados de higiene e conforto de uma forma geral, etc.
Há diferença nas competências dos enfermeiros? Por exemplo, emergência, hospital?
Sim, há muitas diferenças nas competências dos enfermeiros de acordo com as especialidades. O enfermeiro que atua na área de atendimento pré-hospitalar possui competências, habilidades e conhecimentos teóricos e práticos específicos para o exercício de acordo com a prática clínica. Do mesmo modo que a atuação do enfermeiro intra-hospitalar também possui as habilidades e competências específicas hospitalares. Hoje, as especialidades na área da enfermagem são muitas, como, por exemplo: urgência e emergência em atendimento pré-hospitalar, pediatria, neonatologia, cardiologia, unidade de terapia intensiva, enfermagem do trabalho, psiquiatria, nefrologia, dermatologia, obstetrícia, auditoria, gestão, etc.
O que levou você a escolher essa profissão?
A “arte” do cuidar! Foi o meu avô, “Chico”, pai da minha mãe, que despertou em mim a vontade de ser enfermeira. Ele tinha diabetes, e desde pequena eu acompanhava os cuidados com ele na casa da minha mãe. Sempre que ficava internado, eu queria ficar no hospital com ele... Lembro como se fosse hoje!
Quais são os principais desafios?
O reconhecimento e a valorização profissional são os principais desafios enfrentados pelos enfermeiros. Estamos na linha de frente da assistência, liderando a equipe de enfermagem nos cenários complexos de cuidados com a saúde, ainda mais agora com a pandemia de Covid-19. Lideramos políticas de humanização e diversas campanhas de conscientização em saúde. Estamos presentes em todas as etapas do cuidado e precisamos investir em uma assistência qualificada e segura ao paciente. É inadmissível que não tenhamos um piso salarial definido, tampouco uma jornada regulamentada.
Quais são as principais alegrias da profissão?
A satisfação de receber um sorriso de um paciente, de ver um paciente curado! E no meu caso, enquanto docente, ver um aluno com um bom emprego, inserido no mercado de trabalho, é uma alegria e satisfação imensas! Falo sempre para meus alunos direcionarem suas ações enquanto enfermeiros para o bem e o amor ao próximo. O trabalho em equipe e a assistência humanizada são essenciais em nossa profissão, e o amor pela enfermagem é eterno! Temos que viver a vida e não as doenças dos nossos pacientes!
A pandemia, uma situação completamente atípica para a humanidade, está afetando diretamente a rotina de trabalho no hospital. Como está sendo esse momento pra você?
Atualmente, sou docente na Universidade Central Paulista (UNICEP) e faço doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), sob orientação da Profa. Dra. Silvia Zem Mascarenhas.
Atuo na área hospitalar, supervisionando alunos em campo de estágio, na área de Urgência e Emergência e Gerenciamento. Estamos vivenciando essa situação completamente atípica, e a nossa rotina diária é o gerenciamento do cuidado, que envolve a sistematização de enfermagem – acolhimento do paciente, coleta de dados, histórico de enfermagem, exame físico, diagnóstico de enfermagem, prescrição de enfermagem, planejamento de enfermagem, implementação, avaliação de enfermagem e evolução de enfermagem depois das 24 horas do cuidado prestado. O momento é de bastante insegurança e preocupação com os pacientes e com a possível transmissão da Covid para os alunos, nossos familiares e os pacientes.
Em nome de todos os enfermeiros, que recado você deixa tendo em vista este momento pelo qual estamos passando?
Eu destaco que a utilização de tecnologias, as ações multiprofissionais, o trabalho em equipe e a integração do ensino-serviço na saúde, perante o enfrentamento da Covid-19, são essenciais. A enfermagem, dentre outras na área da saúde, é a profissão que atua na linha de frente e se destacou no enfrentamento da pandemia. Mas vale ressaltar que devem ser seguidos protocolos operacionais, normas, padrões preestabelecidos, condições de trabalho dignas, recursos humanos adequados e qualificados e quantitativo de material conforme a demanda exigida, visando à obtenção de ferramentas essenciais para realizar a gestão e o planejamento diante de uma pandemia.
Nada, porém, se compara ao que os profissionais da saúde da linha de frente estão vivenciando... Não somos heróis! Somos seres humanos que necessitam de atenção para realizar o melhor para o paciente e de uma assistência humanizada!
Samira Candalaft Deguirmendjian
Enfermeira
COREN 0104860
Doutoranda PPGEnf UFSCAR
Docente UNICEP