No dia 5 de outubro comemoramos o Dia das Aves. Para celebrar a data, nesta edição publicamos um artigo do biólogo Fernando Siqueira Magnani, que realizou recente inventário no Clube e identificou 84 diferentes espécies. Confirmou-se, assim, que o SCC abriga o maior número de espécies de aves em área urbana da cidade. Leia abaixo o texto do biólogo:
As aves sempre encantaram o homem, desde os tempos antigos, por sua diversidade, sua beleza, mas principalmente pela capacidade de voar, ato que estimulava a sensação, ainda presente hoje, de liberdade. Este fascínio levou à necessidade de conhecimento e consequente estudo mais aprofundado sobre essas criaturas emplumadas.
Pesquisas recentes indicam que no mundo existem cerca de 10.426 espécies conhecidas de aves (dados da BirdLife International). Destas, 1.919 espécies são encontradas no Brasil, segundo o Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO). Esse considerável número de espécies coloca o Brasil dentre os três países detentores da maior diversidade de aves do mundo. Especificamente na cidade de São Carlos, podemos encontrar hoje cerca de 322 espécies de aves, mas de tempos em tempos esse número aumenta, com o registro de alguma nova espécies na região.
Essa quantidade de espécies é resultado, em parte, do mosaico presente de paisagens, que mistura áreas com forte alteração realizada pelo homem, como campos agricultáveis e área urbana, com locais que ainda preservam remanescentes das formações florestais que aqui se encontravam, como o cerrado, campos, mata semidecídua e mata de pinhais, embora a densidade desta última formação, mais rara, seja hoje bastante controversa. O fato é que essas várias formações e paisagens favorecem um número crescente de espécies de aves, que ocupam e vivem nos mais diferentes nichos ecológicos.
Nas “ilhas de vegetação”, como parques e praças no ambiente urbano, esse padrão se repete, embora em escala menor, ou seja, em áreas maiores com vegetação mais diversa, a quantidade de espécies será maior, e, inversamente, em áreas menores e com menos vegetação, o número de espécies será menor.
Uma das grandes áreas verdes do meio urbano do município de São Carlos é a Sede de Campo do São Carlos Clube. A natureza do local e a forte arborização têm um efeito atrativo para diversas espécies de aves, desde as mais comuns, as quais são encontradas em abundância pela cidade, como pombas-amargosas e maritacas, até espécies menos comuns, como papagaios e tucanos toco.
Em recente inventário realizado no local, foram identificadas e registradas 84 espécies da avifauna, o que coloca a Sede de Campo como uma das áreas que possui maior número de espécies de aves na região urbana da cidade. E esse número certamente poderá aumentar com o registro de outras novas espécies.
Dentre as espécies registradas, algumas são bastante interessantes do ponto de vista ecológico, como o gavião-carrapateiro ou pinhé (Milvago chimachima), uma ave predadora, rápida e que fez da área do Clube seu território de caça e casa, reproduzindo-se algumas vezes no local. Um exemplar mede entre 36 e 45 centímetros de comprimento: o macho pesa entre 277 e 335 gramas e se distingue por possuir a pele nua com uma cor amarelo-alaranjada; já na fêmea essa pele é de coloração rosa-pálido. Apesar de ser associado a áreas de pastagem com gado, como o próprio nome já indica, um casal adotou o Clube como sua residência fixa.
Outra ave que chama a atenção no local é uma das muitas espécies de periquitos, no caso o periquito-rei ou jandaia-coquinho (Eupsittula aurea), um pequeno psitacídeo com não mais de 29 centímetros de comprimento e que pesa cerca de 86 gramas. Aos poucos, este pássaro vem adotando o meio urbano como casa, como já fizeram outras aves com sucesso, como o barulhento periquitão-maracanã. Rara até alguns anos atrás, essa ave vem sendo registrada com cada vez mais frequência em área na cidade, principalmente nas que possuem árvores frutíferas e com ocos para nidificar.
No Clube também é possível observar uma das aves mais populares do Brasil, o canário-da-terra verdadeiro (Sicalis flaveola), um pássaro muito comum no passado, mas que, depois de ser severamente pressionado pela caça, quase desapareceu de nosso estado. Hoje, aos poucos, tem ocupado novas áreas. Dentro do SCC, alguns casais ocuparam trechos bem definidos e defendem esse território de forma agressiva de outras de sua espécie. O canário se reproduz em cavidades naturais, como ocos de árvores ou ninhos de joão-de-barro, ou artificiais, como frestas e buracos em construções.
Também foi registrada no local uma espécie típica do Cerrado, o arapaçu-de-cerrado (Lepidocolaptes angustirostris), uma ave passeriforme da família Dendrocolaptidae e que pode ser facilmente reconhecida por pousar diretamente nos troncos das árvores e “andar” verticalmente nestes, usando a cauda como apoio. Voa silenciosamente. Revela seu nervosismo sacudindo as asas; quando ameaçado esconde-se por detrás dos troncos com as asas entreabertas. Alimenta-se de insetos que apanha sob as cascas e folhas.
Todas essas espécies de aves listadas para o local indicam que o Clube preserva em sua área um maciço de vegetação importante não somente para as aves, mas para a região da cidade onde está inserido. Ficou claro que o SCC é importante para o microclima da região toda, junto com a arborização da USP. Essa ilha de vegetação deixa toda a região com clima mais agradável no verão.
Fernando Siqueira Magnani - Biólogo