FAÇA AS PAZES COM A COMIDA, COMENDO

 De maneira simples, a ciência da nutrição trata de todos os processos pelos quais o organismo recebe, utiliza e elimina os nutrientes ingeridos. Porém, engana-se quem acredita que isso remete apena à fisiologia ou à biologia do corpo.

O ser humano é um ser social, ele se diferencia dos demais animais pela maneira como se relaciona tanto com outras pessoas como com o ambiente. E um dos relacionamento mais subjugados e maltratados das últimas décadas foi o nosso com a comida. É fundamental que se resgate esse relacionamento para que haja saúde e controle de peso, lembrando, inclusive, que esse fato parece ser um importante fator no agravamento de enfermidades, incluindo a atual Covid-19.

Antes que você se sinta culpado por ter deixado esse relacionamento arruinar, garanto a você que a culpa não é sua, pelo menos não totalmente. Como nutricionista é importante assumir nossa culpa como classe. Por anos, diversos profissionais propagaram ideias limitadas de emagrecimento e saúde, empurrando cardápios incompatíveis com sua rotina, com obrigações de alimentos de que você não gosta e até proibição de alimentos do cotidiano, como arroz, feijão ou um pãozinho quentinho. Por isso quero que você esqueça dicotomias equivocadas com alimentos: o “pode” ou “não pode”, o que “faz mal” ou “faz bem”.

É claro que precisamos valorizar mais e aumentar o consumo de alimentos com maior qualidade nutricional, como legumes, frutas, verduras, hortaliças e alimentos integrais. Mas isso não significa excluir os demais alimentos, salvo no caso de alguma enfermidade. Em vez de focar no emagrecimento restritivo com dietas mirabolantes de 500-800 kcal, passemos a nos concentrar em hábitos saudáveis e num processo de mudança real, que traga o emagrecimento como consequência de hábitos e organização. Dietas mirabolantes podem trazer resultados extravagantes, mas, por não mudarem seus hábitos e rotina, terão um prazo determinado para acabar e, assim, retornar ao peso anterior (ou mais).

 Por isso baseio o meu trabalho de mudança em três pilares fundamentais, para que o emagrecimento seja real e consistente. Primeiro, é necessário que haja uma organização, e o número de calorias aqui importa, não tem como fugir dessa realidade. Se você quer emagrecer, precisa estar em déficit calórico, consumir menos calorias do que gasta, o que não significa comer somente frango e salada, mas sim adequar alimentos que tragam prazer e permitam seguir o processo pelo tempo necessário.

Tempo nos remete ao segundo pilar do processo: a consistência. Se fizermos uma analogia com esportes, este caminho que vamos percorrer não se assemelha aos 100 m rasos de Usain Bolt, mas sim a uma maratona de 42 km, na qual devemos ter regularidade para atingir os melhores resultados. Para isso é fundamental esquecer padrões fixos de dieta como low carb ou jejum intermitente. Vamos juntos criar uma rotina de dieta que se encaixe no seu dia a dia e em suas preferências.

O último pilar talvez seja o mais negligenciado ou menos falado, mas é o diferencial para que você construa resultados sólidos. O pilar do amor próprio pode parecer besteira de autoajuda, mas é o diferencial para você manter o processo nos momentos de fraqueza e dificuldade. Este pilar diz respeito a encontrar o seu propósito para percorrer esse processo, não importa qual seja, desde que seja seu, e não somente por fatores externos que não tenham significado real para você. Ao definir a si mesmo como prioridade, você poderá fazer as melhores escolhas para que esse processo seja realizado de maneira prazerosa e real, sem criar ilusões ou falsas expectativas.

Mudar uma rotina, um padrão alimentar de anos ou décadas, não é simples, ou rápido, porém dietas mirabolantes, extremistas e/ou restritivas não vão ajudar em nada. Esse trabalho deve ser realizado com o acompanhamento de um profissional capacitado que escute e entenda você, para que assim você possa fazer as pazes definitivamente com a comida e com o seu corpo.

 

Os três pilares do emagrecimento:

  1. Déficit calórico: para que haja perda de peso, você precisa consumir menos calorias do que gasta.
  2. Consistência: para se manter em déficit calórico, você precisa de um planejamento viável, com alimentos que lhe deem prazer em comer.
  3. Amor próprio: para se manter nos momentos difíceis, você precisa ter um propósito seu, forte o suficiente para ser mantido mesmo após recaídas e situações que fujam do seu controle.