O que o isolamento social pode fazer com sua mente (e corpo) e seu futuro?
O distanciamento social pode ter efeitos adversos nas nossas vidas e nossos projetos futuros. Mas ainda há coisas que você pode fazer para manter sua saúde em geral e cultivar projetos futuros.
O que estamos vivendo neste momento?
Até agora, todos notamos o distanciamento de nossos amigos, conhecidos e familiares. O surto da Covid-19 deixou muitas pessoas mais sozinhas ou mais isoladas à medida que o distanciamento social e a quarentena se prolongaram. Alguns estão aprendendo e até aperfeiçoando atividades em casa: assando pão, lendo livros, tomando longos banhos. Outros começaram a sentir a necessidade de estar com outras pessoas, abraçar e conversar. Assim, passar mais horas com os amigos via rede social é uma necessidade, não um luxo. O fechamento de bares, restaurantes e do Clube é motivo de tristeza. Há uma sensação de estar sufocado. Nesse momento, ser gentil com nossos semelhantes é um caminho. Todos nós estamos sentindo as dificuldades desse isolamento prolongado.
Nós seres humanos somos criaturas sociais. Gostamos de estar no Clube, conversando com amigos, fazendo exercícios ou passeando e olhando para as pessoas. Embora a pandemia de corona vírus seja um momento extremo e amplamente sem precedentes, esse tipo de reclusão, nestes últimos meses, não é uma experiência tão incomum quanto se imagina. Os impactos do isolamento social em nossos corpos e mentes foram sentidos e estudados em uma variedade de grupos diferentes, desde astronautas até pessoas encarceradas, crianças, pesquisadores da Antártica e idosos. Há estudos acompanhando os efeitos nas pessoas. Os padrões que surgiram de suas experiências com a radical solidão ajudam-nos a entender e melhorar nossa experiência neste momento.
Entendendo os efeitos do isolamento social
É importante lembrar que o isolamento nos deixa entediados. Parece até que não estamos contribuindo positivamente para o mundo. Isso pode gerar tristeza, gerar momentos de angústia, ansiedade e depressão. É provável que esses momentos sejam particularmente intensos durante o isolamento.
Um trabalho desenvolvido por Lawrence Palinkas, da Universidade do Sul da Califórnia (USC), pesquisa a adaptação psicossocial a ambientes extremos. De acordo com esse estudo, quando o tempo de isolamento é muito bem definido, as pessoas isoladas se saem muito bem. Porém, quando esse período se estende sem definição, como no momento atual, as pessoas experimentam decepção e ansiedade.
Pessoas mantidas em confinamento solitário ou cientistas trabalhando em uma região remota, quando sabem que o isolamento está quase no fim, ficam de melhor humor novamente, em antecipação. Nós que praticamos distanciamento social em virtude da Covid-19 podemos não vivenciar isso tão cedo pela falta de previsão do fim do isolamento. Nesse sentido, a comunicação aberta, transparente e consistente é o mais importante.
Os boletins diários dos governos e organizações têm papel fundamental para trazer essa transparência, de acordo com Samantha Brooks, que estudou o impacto psicológico da quarentena no King's College London. Segundo ela: "Um grande fator no impacto psicológico negativo parece ser a confusão sobre o que está acontecendo, não ter diretrizes claras ou receber mensagens diferentes de diferentes organizações". Por isso, a clareza das informações e cenários de previsão podem aparentemente ser incômodos, mas têm a finalidade de oferecer a transparência da situação.
Como lidar com este momento?
O fato de estar confinado afeta o corpo e a mente, em especial o humor. Se você muda seu ambiente de maneira extrema, isso também está mudando você. Talvez esta seja a primeira vez em que praticamos ativamente o isolamento social.
Não importa qual seja a sua situação, há muitas coisas que você pode fazer para melhorar sua experiência enquanto estamos socialmente isolados. Uma dica importante é criar o máximo possível de estrutura e previsibilidade sobre as partes em que temos controle na nossa vida. Por exemplo, prosseguir com projetos que por alguma razão deixamos de lado anteriormente ou iniciar um novo projeto. É importante ser paciente com você mesmo agora e depois, quando esse tempo estranho passar. O isolamento social pode gradualmente se tornar normal, e perdê-lo pode ser um choque depois.
Felizmente, você não está sozinho, e também não deve deixar os outros assim. Reative sua rede de contatos: ligue para as pessoas mais próximas, mande mensagens personalizadas para aquelas com as quais você se relaciona menos. Isso fortalece as conexões denominadas fracas. Com alguma sorte, você sairá do distanciamento social muito mais próximo de muitas pessoas.
O futuro e as tendências pós-pandemia
As transformações no futuro serão inúmeras, passando pela política, relações sociais, negócios, cultura, psicologia, dentre outras. O ponto de partida é ter consciência de que os efeitos da pandemia podem durar por volta de dois anos, pois a Organização Mundial de Saúde (OMS) calcula que sejam necessários pelo menos 18 meses para chegar a uma vacina contra o novo vírus. Isso significa que os países devem alternar períodos de abertura e isolamento.
Para entender essas e outras questões e identificar os prováveis cenários, é importante conhecer as tendências que os futuristas – pesquisadores nacionais e internacionais – estão traçando para o mundo pós-pandêmico. Segue uma coletânea com dez tendências.
1. Revisão de crenças e valores
A crise de saúde pública é definida por alguns pesquisadores como um reset, uma espécie de um divisor de águas capaz de provocar mudanças profundas no comportamento das pessoas. As crises obrigam as comunidades a se unirem e trabalharem mais como equipes, seja nos bairros ou entre funcionários de empresas. E isso pode afetar os valores e crenças e, assim, incorporar novos valores e crenças.
2. Menos é mais
A crise financeira decorrente da pandemia, por si só, será motivo para que as pessoas economizem mais e revejam seus hábitos de consumo. Como afirma o Copenhagen Institute for Futures Studies, a ideia de “menos é mais” irá guiar os consumidores daqui para frente. Mas a falta de dinheiro atual não será a única razão. As pessoas devem rever sua relação com o consumo, reforçando um movimento que já vinha acontecendo.
3. Reconfiguração dos espaços do comércio
A pandemia vai acentuar o medo e a ansiedade das pessoas e estimular novos hábitos. Assim, os cuidados com a saúde e o bem-estar, que estarão em alta, devem se estender aos locais públicos, especialmente os fechados, pois o receio de ambientes com aglomeração deve permanecer. Eis um ponto de atenção para bares, restaurantes, cafeterias, academias e coworkings, que devem redesenhar seus espaços para reduzir a aglomeração e facilitar o acesso a produtos de higiene, como o álcool em gel. Os espaços compartilhados têm um grande desafio nesse novo cenário.
4. Novos modelos de negócio para restaurantes
Uma das dez tendências apontadas pelo futurista Rohit Bhatgava é o que ele chama de “restaurantes fantasmas”, termo usado para descrever os estabelecimentos que funcionam só com delivery. Com a possibilidade de novas ondas de pandemia num futuro próximo, o setor de restaurantes deve ficar atento a mudanças no seu modelo de negócios, e o serviço de entrega vai continuar em alta e pode se tornar a principal fonte de receita em muitos casos.
5. Experiências culturais imersivas
Como resposta ao isolamento social, os artistas e produtores culturais passaram a apostar em shows e espetáculos on-line, assim como os tours virtuais a museus ganharam mais destaque. Esse comportamento deve evoluir para o que se pode chamar de experiências culturais imersivas, que tentam conectar o real com o virtual a partir do uso de tecnologias que já estão por aí, mas que devem se disseminar, como a realidade aumentada e virtual, assistentes virtuais e máquinas inteligentes.
6. Trabalho remoto
O home office já era uma realidade para muita gente, de freelancers e profissionais liberais a funcionários de companhias que já adotavam o modelo. Mas essa modalidade vai crescer ainda mais. Com a pandemia, mais empresas – de diferentes portes – passaram a se organizar para trabalhar com esse modelo. Além disso, o trabalho remoto evita a necessidade de estar em espaços com grande aglomeração, como ônibus e metrôs, especialmente em horários de pico.
7. Burnout
O coronavírus dificilmente é a única coisa que causa esgotamento mental e físico nas pessoas (denominado de burnout). Mesmo antes de ser desencadeada uma crise global de saúde pública e o medo crescente de uma profunda crise econômica, as pessoas enfrentavam desigualdade desenfreada, concorrência social sempre ativa, a ameaça existencial iminente da crise climática e muito mais. De acordo com Trend Watching, qualquer organização que possa ajudar a melhorar o bem-estar mental e físico das pessoas será recebida de braços abertos no futuro.
8. Shopstreaming
Com o isolamento social, as lives explodiram, principalmente no Instagram. As vendas pela Internet também, passando a ser uma opção inclusive para lojas que até então se valiam apenas do local físico. Pense na junção das coisas: o shopstreaming é isso. Uma versão Instagram do antigo ShopTime.
9. Busca por novos conhecimentos
Num mundo em constante e rápida transformação, atualizar seus conhecimentos é questão de sobrevivência no mercado (além de ser um prazer, né?). Mas a era de incertezas aberta pela pandemia aguçou esse sentimento nas pessoas, que passam, neste primeiro momento, a ter mais contato com cursos on-line com o objetivo de aprender coisas novas, se divertir e/ou se preparar para o mundo pós-pandemia. Afinal, muitos empregos estão sendo fechados, algumas atividades perdem espaço, enquanto outros serviços ganham mercado.
10. Educação a distância
Se a busca por conhecimentos está em alta, o canal para isso, daqui para frente, será a educação a distância, cuja expansão vai se acelerar. Neste contexto, uma nova figura deve entrar em cena: os mentores virtuais. A Trend Watching aposta que devem surgir novas plataformas ou serviços que conectam mentores e professores a pessoas que querem aprender sobre diferentes assuntos.