Como diferenciar a dor de uma lesão?

Desde a chegada do novo coronavírus, muitas pessoas têm adotado a prática do distanciamento social, permanecendo a maior parte do tempo dentro de casa a fim de mitigar o alastramento do contágio. Entretanto, confinados, estão muito mais suscetíveis ao sedentarismo, passando grandes períodos sentadas ou deitadas, o que implica consequências negativas para o organismo.

Por esse motivo, especialistas recomendam que, mesmo em quarentena, seja mantida uma rotina de exercícios físicos. Com o auxílio de profissionais capacitados, a prática de exercícios físicos regulares combate o sedentarismo, o estresse e a ansiedade, além de fazer bem ao sistema imunológico.

Os exercícios, porém, devem ser realizados com alguns cuidados, independentemente de se tratar do indivíduo que já se exercitava antes da quarentena ou aquele que se motivou e começou a prática de atividades físicas na pandemia. Nesta edição, convidamos o fisioterapeuta Thiago Cintra, especialista em doenças da coluna, para responder a algumas perguntas sobre eventuais dores durante a realização da prática de atividades físicas em casa. Confira a entrevista:

 

A quarentena fez com que as pessoas passassem a treinar em suas casas, além de inspirar as sedentárias a iniciarem atividades físicas.  As que já treinavam, devem tomar quais cuidados?

Pessoas que já treinam com frequência dificilmente se machucam com atividade física, pois já têm conhecimento acerca dos exercícios executados, além de muitas serem orientadas por seus personal trainers ou por educadores físicos de sua confiança. O que pode vir a acontecer, em alguns casos, é que, durante a atividade feita em ambiente domiciliar, alguns exercícios acabam sendo realizados com o posicionamento irregular e de forma inadequada, podendo gerar desconforto músculo-articular em virtude da sobrecarga mecânica ou muscular. Por isso, o ideal seria a realização de um aquecimento dinâmico antes de iniciar as atividades, seguido da execução da atividade física dentro dos limites de cada pessoa; ao término, alongamentos específicos pós-atividade. Essa seria uma boa forma de evitar lesões musculoesqueléticas durante o treinamento domiciliar. Deve-se sempre salientar que o exercício em si não machuca, o que machuca é sua execução de forma incorreta.

 

Já as pessoas que antes não treinavam, normalmente, sentirão dores no corpo. Como identificar se a dor é apenas muscular ou uma lesão?

A diferença entre dor muscular e lesão é bem simples: dor muscular, que pode vir a se manifestar pós-atividade, tem começo, meio e fim. Essa manifestação não deixa nenhum tipo de resquício doloroso depois de determinado período, que gira em torno de 48 horas. Já a lesão pode ter várias características, como dor constante, dor intermitente gerada quando a articulação ou musculatura é solicitada, dentre outras. Nesses casos, a manifestação traz desconforto durante a execução e pode culminar até na incapacidade funcional.  

 

 E a dor neural? Qual sua característica?

A dor neural relacionada à coluna vertebral é caracterizada por compressão da medula espinhal e da raiz nervosa, ou um estiramento da raiz nervosa. Normalmente, essas dores acontecem por sobrecarga mecânica na região da coluna lombar e cervical e tem como características dor parestesia, queimação, ardência, além de choque em membros superiores e inferiores, podendo ser unilateral, em casos relacionados à hérnia de disco e estenose de forames de conjugação, e bilateral, em casos relacionados à estenose de canal medular, listese de corpo vertebral e nos casos de lesões neurais relacionadas ao estiramento. Normalmente ocorrem em alongamentos executados além do limite muscular do indivíduo. Em alguns casos mais severos pode levar até à aderência de raiz nervosa, o que faz com que ocorra a perda de amplitude do membro acometido. As lesões neurais podem gerar dores que se iniciam na cervical e vão até as mãos. Também podem acontecer na lombar e chegar até os dedos dos pés. A localização da dor está diretamente relacionada com o nível vertebral que está sendo acometido.

 

O que fazer para evitar lesões?

A melhor maneira é procurar a orientação de um profissional da área, para que seja criado um plano de treinamento. Assim, estabelece-se um planejamento individual respeitando as características do indivíduo. Nos casos de pacientes com patologias preexistentes, o ideal é consultar a equipe interdisciplinar, para que se possa executar atividades físicas de forma mais segura, impedindo o agravamento da mesma. Entretanto, gostaria de salientar que em problemas de coluna, nos casos de pacientes acometidos por hérnia de disco, aproximadamente 80% estão relacionados à má postura, por permanecerem sentados por longos períodos sem intervalo, ou seja, a inatividade causa mais transtornos do que a atividade.

 

Em que momento devemos recorrer a um fisioterapeuta?

Deve-se recorrer ao fisioterapeuta nos casos de lesões traumáticas ou de dores constantes.

 

O acompanhamento regular de um fisioterapeuta é indicado em quais situações?

A regularidade do tratamento se dá dependendo do tipo de lesão/dor. Idealmente, deve-se realizar uma avaliação fisioterapêutica e, com base na avaliação, planejar o que será feito como tratamento.