A importância da figura materna no desenvolvimento humano 

O fato de existirem crianças criadas sem os pais não é motivo para acreditar que a presença deles não é necessária. Crescer sem um dos pais, ou sem os dois, é uma fatalidade que pode até ser contornada, dependendo da situação na qual a criança se encontra, mas não é, por natureza, o ideal para o integral desenvolvimento da pessoa humana. 

Quando falamos de figura materna ou figura paterna, não estamos nos limitando aos pais biológicos, mas sim aos pais que convivem e desempenham de maneira presente esse papel diante do desenvolvimento dos filhos. O que ocorre é que tanto o pai quanto a mãe são responsáveis pela formação de bases fundamentais da psique (o intelecto que contém os sentimentos mais profundos de alguém). Como são os primeiros a conviver com a criança, eles passam uma série de influências que serão fundamentais para uma vida adulta com a saúde emocional equilibrada. 

Como dito, não devemos nos prender a estigmas sociais de que esse papel deve ser realizado exclusivamente por pais biológicos. É necessário compreender que estamos falando de PESSOAS, e estas, podem ser representadas por integrantes da família da criança ou por pais adotivos, podendo estes ser casados, solteiros ou em união estável. 

Educar um filho não é tarefa fácil, afinal os cuidados com ele devem ser constantes e permanentes, e são a chave para a saúde de toda e qualquer criança, mesmo após ela ter alcançado certo grau de desenvolvimento e independência. 

A criança precisa de ajuda durante o período de imaturidade e, assim, a família tem dupla função no papel estruturador. Primeiramente, na satisfação de necessidades básicas como alimentação, abrigo e proteção; em segundo lugar, proporcionando-lhe um ambiente saudável no qual possa desenvolver ao máximo suas capacidades físicas, mentais e sociais para poder lidar eficazmente com o mundo adulto. Essa criança precisa crescer numa atmosfera de afeição e segurança. 

A figura paterna representa a autoridade, a lei, os limites que disciplinam a criança. É a presença do pai que ajuda a criança a separar-se da ligação primária com a mãe para explorar e descobrir novas relações, tornando-se mais autônoma e independente. Mas a partir de agora vamos focar na figura da mãe, que é importante desde o início da vida de uma criança, pois é ela quem protege e acolhe.  

Um dos principais papéis da figura materna na formação do aparelho psíquico é a confiança, tanto em si mesmo como nas outras pessoas. É a mãe que dá conselhos em que devemos confiar, é ela que aprova os relacionamentos de amizade e amorosos. Quando há alguma dificuldade ou falha na figura materna, o indivíduo pode ter a eterna sensação de que não pode confiar em ninguém, a postura defensiva é constante – uma hipervigilância –, como se algo fosse atacá-lo a qualquer momento. 

A figura materna também é responsável por nos permitir errar, é ela que nos diz que “está tudo bem”, que alivia o peso da culpa quando estamos realizando algo e o resultado não é o esperado, que não há problemas em refazer algo, que nos dá a leveza de aprender com calma e paciência. Quando esse processo não é elaborado de forma congruente, o sujeito pode se tornar extremamente rígido consigo mesmo e com os outros. Eleva o seu nível de autocobrança e sofre inevitavelmente de frustrações. Como o seu padrão é elevado, não admite seus erros nem os de ninguém, tendendo a ser autoritário consigo mesmo e com os outros. Coloca seus objetivos em escalas elevadíssimas e se processa como incansável e infalível. 

O afeto, a sensibilidade e as ligações sentimentais estão totalmente relacionados com a figura materna, sendo representada como uma figura amorosa, a qual promove a liberação dos nossos sentimentos, mostrando a empatia e também a necessidade de expressar como nos sentimos perante as situações de nossas vidas. Quando esses elementos estão ausentes no processo de formação da psique, o sujeito pode reprimir quase totalmente seus sentimentos pela necessidade de não se mostrar “fraco” diante das situações da vida, tendo dificuldade na comunicação dos seus sentimentos e até mesmo no entendimento dos sentimentos dos outros. Não raramente pode desenvolver um padrão de individualidade e egoísmo elevado, pois, como não desenvolveu a empatia, não sabe se colocar no lugar do outro. Em momentos de grande emoção, tem muita dificuldade de lidar com os sentimentos, reprimindo-os todos de forma feroz. Dá a impressão de ser uma pessoa fria e de poucos contatos carinhosos. 

A figura da mãe nos passa a sensação de que, sempre que houver necessidade, podemos pedir apoio. Isso se constrói com pedidos pequenos como comida, água, brincadeira e até mesmo com questões emocionais. Ainda temos na mãe a percepção de que os problemas podem ser divididos, bem como a responsabilidade pelas situações, quando a figura apresenta a necessidade de cada um contribuir para os afazeres da casa, por exemplo. É a mãe que supre, nos primeiros anos de vida, as necessidades mais básicas e também ensina a responsabilidade e as consequências dos atos em nossa família. Quando este processo é falho ou, ainda, ausente, o sujeito pode ter extrema dificuldade em pedir ajuda em qualquer situação da vida. Toma a postura de assumir todas as responsabilidades nas áreas de sua vida, sendo o “salvador da pátria”, sobrecarregando a si mesmo com problemas dos outros. Nasce, então, o processo de se sentir sozinho e abusado, ignorando o fato da divisão de responsabilidades e de resultados. Tem necessidade de acúmulo de objetos e suprimentos, como se precisasse suprir um imenso vazio interno, com intensa propensão para compulsões em geral. 

É importante lembrar que não estamos falando da mãe biológica, mas sim da figuração da mãe na vida. É muito comum algum desses traços aparecerem na vida do sujeito mesmo com uma mãe presente, mas que carrega dificuldades. Por isso, é importante você, que desempenha o papel da figura materna (muitas vezes realizado por uma figura masculina), compreender que o processo de psicoterapia pode fazer com que desenvolva e entenda algum complexo materno que foi instalado no curso de formação do seu aparelho psíquico e, assim, anule o processo de transmitir aos seus filhos padrões de comportamento herdados de sua geração. Portanto, para evitar um ciclo vicioso, lembre-se de que sua mãe foi a melhor que conseguiu ser, e você também pode buscar a sua melhor versão, uma versão de amor, talvez a maior e mais recompensadora de qualquer ser humano. 

 

Por Ana Paula Balan Manzini

Psicóloga Clínica 

CRP – 06/132175