Emerson com Guga

O menino de origem simples, que vendeu sorvete, foi flanelinha e capinou quintais para ajudar na renda familiar, hoje é treinador de alto rendimento no tênis, recém-contratado pelo São Carlos Clube. 
O primeiro contato de Emerson José de Lima com a modalidade ocorreu por acaso. Aos 14 anos, o mais velho de cinco irmãos precisava arrumar urgentemente um trabalho, pois, se voltasse para casa desempregado, o “couro ia comer” nas mãos da mãe, Ivanice, a faxineira responsável por pagar a maior parte das despesas, uma vez que o marido era alcóolatra. Surgiu, então, a oportunidade de ser boleiro em uma academia de tênis em Jundiaí (SP), sua cidade natal. “Fiquei com o emprego, mas não curtia tênis. Gostava de futebol”, revela.
Mas foi se afeiçoando ao esporte e, incentivado por um instrutor da academia, aprendeu muita coisa na “raça”, tendo o paredão como principal professor. Foi jogador da 1ª classe, mas não chegou a ser profissional. Com 22 anos já treinava Júlio Silva, Rogério Dutra Silva, Tiago Alves e Thomaz Bellucci, que fez seu primeiro ponto na ATP (Associação de Tenistas Profissionais) quando Emerson era seu treinador. 
Em 2006, iniciou uma pré-temporada, com Júlio Silva, na academia de Larri Passos, ex-técnico do Guga, em Balneário Camboriú (SC). Também passou três meses na Europa com Júlio, que ganhou o Qualifying e, se tivesse avançado no torneio, jogaria contra Rafael Nadal. Em 2012, foi convocado e fez parte da comissão técnica do time que representou o Brasil na Copa Davis, em São José do Rio Preto (SP), como técnico de Thiago Alves, que já havia jogado contra Roger Federer.
Emerson recebeu outras propostas de trabalho, mas optou pelo São Carlos Clube. “Estou entusiasmado em trabalhar aqui. O Clube já respirou alto rendimento com Vivian Segnini e Elson Longo, e pretendo lapidar outros talentos”, garante. Dentre essas apostas estão Pedro Gomes, Pietro Augusto Dias Gabriel Garrido e Sthefany de Lima, sua filha e que, aos 12 anos, já se aperfeiçoa no esporte na categoria infanto/juvenil. Outros nomes, como Gustavo Martins, André Ventura, Gabriel Gomes, Caio Córdoba e Luiz Galindo, também são destaque. No momento, as atenções estão especialmente voltadas para Gabriel Tomazoni, que já conquistou dois pontos na ATP. 
O profissional que já acumula mais de 20 anos de experiência conta que trabalha em parceria com os professores de tênis do Clube. O aluno que atingir o nível técnico adequado terá a opção do alto rendimento, independentemente da idade. Entre os pré-requisitos estão treinar mais horas por dia, participar de várias competições ao longo da temporada, estar focado nos estudos e também na alimentação e já ter boa socialização com os outros jogadores. “Brinco que o alto rendimento quebra o jogador todos os dias, e o preparador físico e o fisioterapeuta o recuperam todo dia. É um atendimento multidisciplinar, e estamos em busca de outros profissionais e desafios”, explica.
Emerson também coordena o projeto social “Valor do Esporte”, em Várzea Paulista (SP) e em São Carlos, em que cerca de 500 crianças carentes são introduzidas no esporte por meio do tênis.
Será que o técnico está arrependido de ter aceitado aquele primeiro emprego? “Jamais. Foi a profissão que escolhi, e poder ver o jogador crescer a cada dia, melhorando física, profissionalmente e como cidadão é muito gratificante. Sou o orgulho da dona Ivanice”, finaliza.